quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Carta ao Anjo da Guarda

Querido Amparador,
ando trabalhado muito, pensando muito e esquecido um pouco de você. Houve momentos que nós conversávamos mais... My fault.
Entendo a sua invisibilidade, sua sutileza e respeito às minhas atitudes... Imagino que você discorde muitas vezes... Admiro sua capacidade de suportar, me vendo fazer bobagens, sem interferir. Eu não fui treinada para ser anjo ainda...minha profissão exige que eu dê pitaco na vida dos outros, chame atenção, interfira. Já a sua atividade requer muita paciência, muita fleugma... Ainda não tenho...Se eu fosse você, já teria, ao menos, me beliscado em algumas ocasiões.
Preciso voltar a conversar mais com você...Se você tenta me chamar e eu não escuto, desculpe. Talvez o barulho da vida interfira... ou o barulho da minha cabeça? Mas eu amo você demais. Confio muito em você. E fico chateada por ser tão atrapalhada e você tão discreto. Hoje lembrei muito de você e resolvi até te escrever... funciono melhor assim. Ando confusa... precisando de conselhos... desejando mudar os rumos... ansiosa... Fica por perto esta noite...
Tô com muito sono... talvez seja o seu chamado pra conversar... tomara que sim...
Beijo.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Carta a Santa Inocência

Prezada Santa:
Nem sei como começar...Tem situações que são dificeis de destrinchar... Vamos ao fato: Estou desconsolada!!!
Tem coisas que não tem conserto!!! Não da pra mandar arrumar...não existem  casas especializadas. Não é como levar um secador de cabelo estragado para a loja autorizada da fábrica, por exemplo... E essas coisas tem o seu valor,  nós sabemos quanto custam... Pra adquirir um já é dificil... Imagina quando estraga...
Não tem a menor idéia do que eu estou falando, não é? Já disse: estou desconsolada... kkk. Meu vibrador queimou... E agora??? Alguém já passou por isso? Faço o quê com aquele membro de silicone, que não se movimenta mais?
Imagine levá-lo na Sex Shop... o cara vai pensar o quê? Nooossa... chegou a queimar o pobre coitado... Deve ser meio parecido como levar seu marido impotente ao Urologista. Ele deve pensar: Huumm... como será que ela esta se virando sozinha?
Pedir pra um "faz tudo" consertar pra mim? Me imagino fazendo uma cara de paisagem, dizendo: Por favor, o senhor poderia consertar a pia que está vazando? Aproveita, troca a tomada da coifa do fogão e já dá uma olhadinha neste vibrador, que ele não tá mais girando? Já troquei a pilha, mas acho que deve ser o "fusível"... Seu dinheiro está em cima da mesa... tô indo. E neste momento ocorre a minha transmigração para qualquer planeta onde os habitantes tenham a pele da cor "roxa de vergonha".
 Depois pensei em jogar fora... mas aonde?  No lixo? Imagine jogar um "membro" no lixo... O zelador do prédio colocando os latões na calçada, o saco rasga e cai o "meu pênis" na rua... Hipótese sumariamente descartada.
Dou uma de Jack estripador e pico o pobrezinho? Ou queimo na churrasqueira? Imagine o cheiro do silicone e da borracha...Até que desmanche tudo, a vizinhança já desceu correndo por causa da fumaça...
Compro outro e deixo esse guardado, melhor, escondido. Nem pensar, se vibradores tiverem uma meia vida de dois anos como este,  até os 80 anos terei uma coleção de pênis queimados... Já vou providenciar uma cristaleira para expô-los... sim, porque até lá... já nem terei mais vergonha da empregada ou dos amigos... e, talvez, olhe pra eles com imensa saudade exclamando: Nooossa, como esse era bom... aquele azul eu comprei numa viagem... olha esse como é grande...nem cabe mais!?
Céus!!! Vejam que dilema!!! O que se faz com um vibrador queimado? É pior que bateria de celular velha...Você nunca se livra... Jogo no rio?  Ponho num saco plástico e atiro pra fora do carro numa estrada deserta? O pior é que o pobrezinho é daqueles que imita direitiho um verdadeiro... Imagina se sou parada numa blitz? E acham um pênis dentro de um saco de lixo escuro no porta-mala... Pior que portar droga...
Por fim...depois de muito pensar, devido a essa dificuldade de mão-de-obra e por conta dessa situação francamente vexatória, resolvi botar a mão na massa, digo, no membro... Abri o coitado na inserção do cabo do controle e  descobri que os fios tinham saido do ponto de contato para a passagem de corrente elétrica...  (Desfaça imediatamente esse sorrisinho de canto da boca... eu não fiz nada demais com ele!!!)
Recoloquei no lugar, passei fita isolante e...voilá!! Eis o bonitinho funcionando de novo, totalmente recuperado!

Depois desta quase epopéia, aprendi 3 coisas a respeito de vibradores:
1. Eles são tão difíceis de se livrar, quanto os verdadeiros.
2. O mecanismo que os faz funcionar é tão simples, quanto os verdadeiros.
3. Tem coisas na vida que só a gente mesmo pra consertar...

No fim das contas, acabei de encontrar mais um nicho de mercado... Daqui a pouco ponho uma janela no blog: CLICK AQUI, eu tenho a solução para o seu desconsolo!!! Conserto garantido. Sigilo absoluto.
Vou até ser contratada por você, Santa Inocência.
Beijos.  Handy Guinevère.

Carta pra minha irmã

Minha querida:
para que serve uma irmã?
Reencontrar você me fez rememorar, como um filme todos esses sentimentos.
Irmã serve pra dormir junto de mão dada, pra dividir o medo do escuro, ou, então, abraçar na hora do sonho ruim... irmã sempre sabe dos nossos segredos... aqueles que a gente só conta antes de dormir...de luz apagada com o rosto vermelho... Irmã serve pra conversar até de madrugada...rir de madrugada e levar bronca da mãe...
Quando uma cai, a outra senta no chão do lado pra enxugar a lágrima e  esse  é o abraço que mais conforta...é um abraço entre iguais. Você foi perfeita!!
Irmã serve pra gente brigar de vez em quando, mas perceber que o amor não diminui por isso...Irmã serve pra brigar pela gente de vez em quando e perceber como o amor aumenta por isso... Irmã serve pra confiar, pra consolar, pra partilhar...
Beijo e abraço de irmã não tem outra intenção que não seja confortar, acarinhar... A gente não tem medo de quase se fundir no abraço de irmã. Abraço de mãe a gente recebe, abraço de irmã a gente troca...
Irmã lê pensamento, completa frase... mesmo ficando tempo sem se ver. E quanto tempo a gente ficou sem se ver...
Pra irmã a gente não tem receio de pedir ajuda, de pedir colo, de pedir apoio... a gente dá, porque a gente recebe...Às vezes uma dá mais, às vezes a outra... mas a conta cármica vai sendo naturalmente zerada.
Irmã a gente tem orgulho, porque a vitória dela é a nossa... e cada uma tem as suas habilidades, os seus traços fortes... que é bom que sejam diferentes pra trocar... Por isso o caminho de cada uma é único...é como se a gente combinasse: você vai por aqui, eu vou por ali. Depois você me conta tudo e a gente ensina uma pra outra o que aprendeu...
E como nós aprendemos rápido uma com a outra... porque a linguagem é a mesma... quase telepática. As sinapses são parecidas.
E às vezes a gente aprende as mesmas coisas de forma diferente, com pessoas diferentes. Claro!! Os interesses são os mesmos...o caminho é o mesmo... a gente pode ir cada uma por um atalho... mas sabe que quer chegar ao mesmo lugar...
E o amor de irmã só vai aumentando com o tempo, porque ele é construído com bases sólidas de confiança, honestidade, partilha e cumplicidade.
Durante o caminho a gente vai adquirindo comunicabilidade,  maturidade, experiências compartilhadas... a gente vai  abrindo os olhos para novas idéias, quebrando paradigmas e... des-per-tando...
Os ingleses tem uma rainha mãe... eu tenho uma rainha irmã. Não é o máximo??
Agora a gente vai passar um tempo juntas...  tem tanto assunto pra colocar em dia...
Estou te esperando pro sorvete e pra guerra de travesseiros... Aquela receita te mando amanhã.
Beijos carinhosos.
Gui.

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Carta a Epicuro

                Prezado Epicuro, meu filósofo favorito:

                Imagino você, 300 anos antes de Cristo, já filosofando sobre felicidade... Adoro o seu tetrafarmacom, seus 4 remédios para o bem viver:  não é preciso temer a Deus, não é preciso temer a morte,  é possível ser feliz e é possível evitar a dor. Em relação aos dois primeiros, tenho uma visão peculiar, diferente da sua. Mas gosto imensamente da sua visão sobre ser possivel ser feliz e evitar a dor.
Particularmente, penso que as pessoas passam boa parte das suas vidas, tentando evitar sofrimento. Cada um com sua fórmula. Uns bebem para esquecer, outros comem. Há os que passam a vida vendo TV, ou jogando videogame. Outros trabalham demais, dormem demais, falam demais. Alguns param de pensar pra não sofrer. Muitos tomam remédios pra dormir, para depressão, para pequenas dores físicas. Tem aqueles que adoecem para trocar o tipo de sofrimento, ou para morrer logo e fugir da dor.
Os mais intelectuais burlam o sofrimento escrevendo livros de como se sair bem de situações amorosas, profissionais, de relacionamentos interpessoais, com um único objetivo:  Obter sucesso em evitar sofrimento.
Os cristãos explicam as dores, sublimam o sofrimento e se resignam na crença de que sofrem agora para não sofrerem depois.
Os budistas meditam e esvaziam a mente para não pensar no sofrimento.
Para os conscienciólogos, o sofrimento é oportunidade de evolução, é desafio existencial e superação. Waldo Vieira diz que a próxima existência será ainda pior.
Ontem uma amiga me falou de um casal que vive junto há 30 anos, num sitio, fazendo linguiça, felizes em perfeita simbiose. Imagine o pacto secreto, provavelmente tácito entre eles de não se moverem além do seu idílio e não buscarem mais conhecimento, crescimento pessoal, profissional e espiritual para não se afastarem e não correrem risco.
Permanecer dentro do círculo,se aproxima do que, você,  Epicuro,  pregava para ser feliz: satisfação apenas dos prazeres naturais e necessários.  Evitar os desejos não necessários e não naturais, pois estes precisam de mais pessoas e situações para serem satisfeitos. Quebram a autarquia, freiam a liberdade e causam dependência e sofrimento.
Mas como crescer pessoal e espiritualmente sem sonhar e quebrar paradigmas? Como quebrar estes paradigmas e deixar algum legado para o mundo sem sofrer? Como dar o salto sem risco de cair?
Passar uma vida inteira evitando sofrimento não parece insano?
Mas quantos de nós tem coragem de abrir o peito para o novo, encarar as dores dessa vida, sem medo de mudar, de sair da zona de conforto.
Se a vida é evolução, é crescimento e superação, quanto eu posso crescer fazendo tudo sempre igual e me escondendo atrás das coisas conhecidas e seguras. Em nome de Deus, da família, do dinheiro? Ou será apenas em nome do medo. Medo de sofrer?
Epicuro, você acreditava que a dor pode ser suportada, porque é passageira... ninguém lembra desta parte.
Que pena!!!
Eu acredito.
Sem todos aqueles mecanismos de defesa que inventamos, com um mínimo de armaduras, nos expomos mais, sofremos mais, porém, temos mais oportunidades de aprender.
- Aprender pra quê??- grita minha amiga -quero ficar quieta no meu canto, feliz com o meu amor, sem me ocupar com mais nada além de mim.  Azar do resto do mundo!!
Tudo bem, sente e descanse. Aprecie a paisagem!!! Você tem quantas vidas quiser e todo o tempo que desejar...
Nos vemos lá na frente. Ou não... Só não derperdice os seus dons...
Beijos. Gui.

domingo, 25 de abril de 2010

Carta a Nêmesis

Se você plantar milho, você vai colher milho, nunca  vai colher tomates. Adoro minhas amigas filósofas...Principalmente, nestes dias de chuva...
Tem dias que a gente acorda e se sente completamente fora do meio, perdida,  tipo hora errada e lugar errado ...
Ainda bem que isso não acontece muito frequentemente comigo...eu costumo ser bem adaptável... na verdade, esse sentimento de inadequação e injustiça, por sorte, não lembro de ter passado muitas vezes na vida...mas diria que uma vez sorvida essa sensação amarga, ela não precisaria repetir...
O que você acha, Nêmesis, da frase da minha amiga? Fico pensando o que você tem achado deste mundo. Talvez você seja uma das idealizadoras das catástrofes naturais, que vem ocorrendo neste planeta...
Você é a deusa da Ética e responsável por vingar os humanos, que se afastam dos seus preceitos por arrogância, vaidade, e todos os excessos mundanos.
Preciso de você pra me consolar....Não se inflame ... falei de consolo, não, de vingança... Se bem que tudo o que eu ouço dos meus amigos ultimamente é: "Calma, o mundo é redondo. Aqui se faz, aqui se paga". Essas palavras poderiam ter saido da sua boca...
Como é difícil lidar com injustiça... Você fazer o melhor numa situação e ser mal-interpretada, ser alvo de mentira, calúnia. Pior, as pessoas usarem sua posição social para te difamarem, sem você ter a chance de defender seu ponto de vista.
O mundo nem sempre é justo, as pessoas, também não. As pessoas podem não querer  reparar um erro e podem, sequer, se dar conta que erraram para consertar ou aprender a não repetir.. E aí, nós, pobres injustiçados, temos que dar conta dos nossos sentimentos e lançar mão de todos os mecanismos de defesa para superar o acontecido.... E confesso, que contamos com você  para reparar o que não podemos... Fazer a sua justiça, manter o equilíbrio entre o excesso de riqueza, de alegria, de maldade e a escassez de preceitos éticos... O gregos acreditavam que se existisse um sentimento profundo de ética, a sociedade seria bem estruturada e sua falta, causaria auto-destruição. E, você,  Nêmesis era a deusa responsável pela justiça dos homens. Nossa, quanto trabalho!!! Que imensa responsabilidade!
Estou triste hoje. Além de você, só posso contar com Cronos, o Deus do Tempo!! O tempo faz, o tempo desfaz, dizia meu avô...Que seja assim!!!



A ética foi o cimento que construiu a sociedade grega. Os gregos já tinham conhecimento de que, se existisse um sentimento profundo ético, a sociedade se manteria bem-estruturada e organizada; quando esse sentimento ético se rompia, ela começava a entrar em crise auto-destrutiva.

domingo, 11 de abril de 2010

Carta a Catarina de Médici, Rainha da França.

Sua Alteza,
Você que adora gastronomia e parece ter inventado o salto alto, talvez possa nos entender.
Você  conhece duas amigas novas... sai pra jantar no Shopping e come uma salada saudável (pra deixar um espacinho pro café e pro doce...) É maravilhoso como algumas coisas são ainda universais e capazes de unir mulheres de 20, 30 e 40 anos... que foi o nosso caso! Um papo ótimo sobre versões atuais de homens e relacionamentos... troca de experiências e muitas risadas...depois,  uma espiadela rápida de vitrines.
Então, aquele acontecimento clássico: uma colorida vitrine de sapatos. Impressionante, mas neste momento, temos todas a mesma idade: 15 anos, olhos voluptuosos, impetuosidade e passos firmes em direção a entrada da loja.
Prezada Catarina de Medici, você que nunca frequentou um Shopping, mas já era louca por sapatos, poderia me responder quantos pares de sapato são suficientes para satisfazer os caprichos de uma mulher, melhorar seu humor, fazê-la esquecer que está longe de casa e com saudades dos seus amores?
Li uma vez que a Fernanda Lima tinha 100 pares de sapatos.  Quando ia comentar que, após uma mega faxina e muitas caixas de sapato doadas, contabilizei 70, minha amiga de 30 bateu o recorde: 240 sapatos.
Caramba!! Porque será que nós gostamos tanto de sapatos? Será que existe alguma correlação entre o alinhamento do chakra plantar e o uso de sapatos novos? Será que a distância dos olhos ao sapato nos permite uma melhor apreciação panorâmica e estética, quando esticamos a perna, diferente de roupas, brincos, cintos e outros acessórios menos estrategicamente localizados e só visíveis com espelho?
Será que o sapato simboliza a nossa base sólida, a nossa conexão com a terra e a realidade? Será que subir no salto realmente nos leva a uma sensação de poder?
Só sei que entre cores, fivelas, laços e tipos diferentes de saltos ficamos entretidas por um bom tempo. Até perdemos o café... o Shopping fechou, claro!
Mas engraçado foi a moça tentando me vender 3 pares e eu tentando me convencer a duras penas, que eu não precisava de um sapato bege, apenas um preto e um vermelho. Comprar o bege seria excesso de consumismo e eu já tinha passado desta fase. Conseguia me controlar.  A propósito, duvido que o significado de precisar do dicionário contemple a nossa particular definição deste verbo, quando o assunto é shopping. O fato é que a vendedora era ótima e apostou que me convenceria a levar os três pares de sapato, porque faria uma proposta de pagamento irrecusável. Eu saí da loja orgulhosa de mim mesma, não sucumbi ao sapato bege.. mas levei os outros dois e uma bolsa linda... Ops!
Na saída da loja minha nova amiga comentou: "Nossa!! A proposta de desconto dela deve ter sido ótima pra você ter levado a bolsa, que custava duas vezes o preço do sapato bege."
Não sei, não lembro, pensando bem acho que nem tinha realmente um desconto...ela só propôs algumas formas alternativas de pagamento... Caímos as três na risada!!!

Alteza, você ia adorar!!! Beijos.

segunda-feira, 29 de março de 2010

Carta a Afrodite

Prezada Deusa do Amor e do Sexo:

Você, decididamente, era uma Deusa nada Santa... e, quase sempre, se entregava sem reservas aos prazeres da carne e do coração...
Calma, minha Deusa, longe de mim querer atiçar  sua ira e desejo de vingança com  minha habitual sinceridade...Eu sei o que você fez no verão passado com vários mortais. Nem os deuses escaparam: Psique, Fedra, Eos, Hipólito, Anquises, Ares...a lista é grande. Mas é justamente o seu tipo de vingança que me deixa profundamente curiosa. Porque toda a sua ira, ciúme e caprichos contrariados eram vingados com a mesmíssima arma: o amor. Ou seria a paixão? Ou quem sabe o desejo? Definições a parte, você fazia a pessoa enlouquecer pela criatura mais improvável:  o pai, o filho, o enteado, o feio, o animal... Pelos deuses do Olimpo, quanta parafilia!!!
E quando digo que  sua personalidade vingativa me interessa, é porque a nossa consciência fica muito mais tranquila, por podermos atribuir a você, a culpa das nossas insanidades amorosas.
Como é conveniente acreditar que  você continua aí em cima no Olimpo, vigiando nossas ações e se divertindo, nos rogando pragas de amor.
E se não for mesmo você, a tecelã de todas essas trapalhadas românticas, por favor, desempoeire a sua sabedoria milenar e  me ajude a entender o que faz a gente se comportar muitas vezes, de forma tão irracional. O que nos faz quebrar paradigmas tão bem fundamentados?  O que move os desejos de uma mulher...Ou então: Que tipo de homem faz a gente perder a cabeça e fugir às regras, quebrar protocolos, sem se importar com as consequências. Na verdade, a gente se importa com as consequências... mas a gente sequer lembra delas na hora que faz... Será que você, Afrodite, em nome da insanidade do amor, nos castiga com amnésia temporária?
O que faz a gente transar com um cara no primeiro encontro? E deixar sem a menor cerimônia outros pobres coitados esperando meses...é só energia? Uma" questão de pele"? Ou é o approach certo? Mesmo que esse approach seja completamente canastrão?
 Será que eu tô falando bobagem?
Uma vez passei um final de semana com um Deus do Olimpo, foram beijos intermináveis, mesma cama, ele super-carinhoso e não rolou nada...namoramos depois. Já outro, me encontrou na praia, cheia de areia, me levou pra uma barraca tipo iglu... perto do meu dia fértil e eu permiti... No outro dia quase morri de náusea tomando a pilula do dia seguinte e cozinhando pros amigos... e pior, sem o menor arrependimento.
Você sabe que não deveria, que não é o momento, que é o último cara com quem você poderia se envolver...Aí, vocês se encontram pra resolver o"flerte" e ele, na maior cara de pau, diz que não foi ali pra conversar e abre a calça... absurdo total!! Qualquer outro vc chamaria a policia, mas vc acha atrevido, sexy e não resiste...Foi você sua Vênus, confesse!!
 Será que a gente gosta mesmo de canalhice... Será que é só falta de tempo pra pensar, afinal, os botões da calça abrem tão rápido? Será que é  falta de reação ao imprevisível??
Tenho que reconhecer, que os casos que começaram assim, com arrepios súbitos e hot flushes, comigo duraram anos... os outros, poucos meses... Huummm... pensando bem, quem sabe eu tenha  uma boa pontaria!!! Minha intuição tenha escolhidos os melhores... Quem sabe essa reação passional ao primeiro encontro tenha instigado esses homens, que se deixaram ficar por perto mais tempo... Santa modéstia!!! Acho que tudo isso foi dedo seu, minha Deusa ardilosa!
Será que esse irresistivel desejo do primeiro encontro pode ser um sinal de reconhecimento mútuo? De energia vibrando na mesma frequência... tipo dois imãs que precisam se encostar (ops!), se encontrar...hehe.
Sabe o quê?  Seja o que for, salve o coração aos saltos do primeiro encontro! Salve o impulso incontrolável do primeiro encontro e todos os grandes amores das nossas vidas.
E salve você, Afrodite, que nos inspira e nos instiga com seus incessantes e deliciosos convites ao inesperado. Se essa é a sua vingança, ela até que é bem doce.

Respeitosamente. Guinevère.

terça-feira, 16 de março de 2010

Carta a São Tomás de Aquino

Prezado Santo,
Quantos pecados pode cometer um homem? Principalmente, no primeiro encontro...
No inicio de um relacionamento, os deuses não tem do que reclamar. Saímos direto cumprindo o mandamento de Jesus: "Amai-vos uns aos outros".  As mais calientes preferem se guiar pelos ensinamentos de São Francisco... Whatever... Qualquer que seja a vertente, não escapamos de, pelo menos, algum pecadilho... principalmente os capitais.
O primeiro pecado já acontece quando ele te convida pra sair e você aceita... Ele pensa: " Uau, está no papo" e, claro,  passa a tarde se achando o último biscoito do pacote... Invocando quem? Ela,  a impávida soberba. Se os amigos dele ficarem sabendo  e, por acaso,  virem você, fazem aquele olhar arrogante e superior, que significa: "Prepara-te mulher, hoje sucumbirás ao abate"... Tudo bem, pecam eles, pecamos nós. Com certeza não tem pouca soberba naquele erguer de sobrancelhas e sorriso de canto de boca, que nós fazemos ao explicar pra amiga: "Puxa,desculpe, não posso sair com você, ele me convidou pra jantar"...e completamos a cena alargando o sorriso e fechando e abrindo vagarosamente os olhos a la Marilin Monroe... que "nunca foi santa".
Ele vem te buscar, você desce com o cabelo arrumado, maquiada, um vestido lindo e um salto alto e, neste momento, ele já  passa para o segundo pecado, quando te olha de cima até embaixo com olhos absolutamente gulosos. E a gula não termina aí...Homens costumam ter fome à noite.. ele escolhe um bom restaurante... Sorte a nossa!! Que delícia de pecado!!
Meu último encontro,  pasmem, começou com  o pecado da inveja. Ele me convidou pra jantar, mas também já se convidou pra ir no meu carro, porque nunca dirigiu um modelo igual. Claro que deixei ele dirigir, claro que ele se aproveitou da situação. Homens adoram levar vantagem: saem com você, mas, se puderem, também tiram uma lasquinha do seu carro novo... Ah, esse tipo de inveja a gente nem liga!!!
A gula e a soberba sempre pontuam o jantar. A primeira no que entra pela boca, a segunda em tudo o que sai por ela. Na arte da conquista do primeiro encontro, entremeamos a exaltação da comida  com a exibição das nossas virtudes...E é assim que tem que ser. Puro orgulho!! Para alguns: Panis et circensis.
         A avareza vem espremida no meio de dois ataques de ira contida. No primeiro, ele vê a conta e disfarça a indignação com o total dos gastos. O segundo ataque de ira é meu, quando ele me mostra a conta e aponta a cerveja long neck de 20 reais cada uma...
        Quer saber onde está a avareza? Pois bem: Antes de me mostrar a conta, ele pergunta se eu me importo em dividi-la. Claro que não me importo... Porém, nós não temos mais idade ou problemas financeiros para reclamar de uma conta de duzentos reais. Portanto, eu esperava dele a cortesia de pagá-la... Ele foi moderno? Acho que sim!! Avarento? Com certeza.  Gentil? Nunca!!!
        Depois do jantar, aplacados alguns pecados, instigados outros, voltamos para o carro. Eu dirijo desta vez, porque dirigir sob efeito do álcool não é pecado, mas é ilegal. Além disso, a espera pelo próximo pecado requer um certo controle da situação. "Você já quer voltar pra casa?" Pergunta ele. É certo que sim, é claro que não. Pra esta pergunta preciso de aconselhamento até do Papa Gregorio Magno. Sucumbir à luxúria no primeiro encontro já devia ser assunto controverso desde o século VI, quando ele inventou os sete pecados. O moço pode ter novo ataque de soberba e, já saciado dos prazeres da desta carne que vos fala, ir pecar em outros corpos. Enquanto eu penso, ele me beija e acaricia ... e a mão é leve... eu fecho os olhos e vai dando uma preguiça de pensar... uma moleza... e aquela vontade incontrolável de uma cama macia... lençóis... Mas...
Por Todos os Santos, São Tomás!!! Desta vez eu resisti... Pelo menos abençoa meu sono e me põe pra dormir...o ar condicionado já está no máximo.
                         Sozinha e insone neste quarto,  Guinevère.

sexta-feira, 12 de março de 2010

Carta de enquete às mulheres

Prezadas mulheres do mundo:

Esta carta, na verdade, é uma pesquisa de opinião pública.
Preciso de um conselho urgente, de uma luz no fim do túnel...
Sabe quando você encontra aquele cara? Moreno, alto, olhos verdes, corpão, mega-simpático, inteligente e interessadíssimo em você? 
Melhor ainda, sabe aquele tipo meio tímido, que não tem respostas prontas, nem cantadas baratas e que fica mais quieto, procurando a melhor forma de te conquistar... (estudando a presa, claro!) , mas, ainda assim, prestando toda a atenção no que você diz...
O cara ainda abre a porta do carro, escolhe a opção perfeita do cardápio, serve o seu prato, adora a sobremesa que vc pediu e também não dispensa o café...Já falei do sorriso e dos dentes branquinhos?
Os amigos dele, que mal te conhecem, já sabem e estão botando pilha.. super-simpáticos...
Então... depois do jantar ele te leva pra casa...dele, é claro!!   Mas na entrada da garagem, vc argumenta que apesar dele prometer se comportar, você não promete... e que, só por hoje, prefere ir pro Hotel ... Pasme, ele leva na boa!!!
A história é legal, não é? Daquelas que a gente torce pra acabar bem...
Então, carinhos no carro, beijos na chegada ao Hotel e... pra terminar  a noite... caramba, que bela tramóia: o beijo não é bom. Sabe aquele beijo duro, quando os labios não relaxam e a lingua não tem a menor idèia de onde devia estar? Voce tenta, se esforça e nada? Só resta envelopar a boca do sujeito, dar um selinho e botar no correio... (Depois da meia-noite, o nosso carro vira abóbora, o deles, caixa de correio, hehe)
Depois de despachar o cara, você sobe pro quarto e descasca o seu anjo da guarda. Pergunta pra quem ele tá torcendo... Qual é o aprendizado que você tem que ter com a história? O que ele realmente quer de você...Quantas pedras você jogou na cruz...E como a vida é injusta!!! O seu controle de qualidade demora pra encontrar um cara interessante e, principalmente, interessado. Pra acabar tudo num beijo mal dado??
Pra enterrar a história, lembro do meu filósofo preferido: "O soro está para o sangramento, assim como o beijo está para o amor...os grandes se avivam, os pequenos se esvaem..." .Caramba, praticamente beijei um atlas de anatomia...sem um pingo de sangue!! Credo!!!
 Lágrimas e lenços de lado... preciso da ajuda de todas vocês para decifrar "o grande enigma do beijo".
 É que, de volta à realidade, lembro da dificuldade de encontrar um perfil masculino adequado e, após catalogar todos os predicados do rapaz,  fico tentada a dar uma segunda chance... 
Mas também não queria entrar em jogo perdido... por isso lanço a pergunta à todas as mulheres do mundo e espero que me respondam sinceramente:
    - Beijo melhora????







segunda-feira, 1 de março de 2010

Carta à melhor amiga (Precisando de um ombro)

Amiga querida:
Cheguei a uma conclusão importante neste final de semana... você não sabe ter um caso (acho que pouca gente sabe). Pelo menos não deste tipo...Como assim??
Então... na minha parca experiência, acho que existem 3 tipos de casos. O primeiro tipo é aquele em que ambos se apaixonam e vivem um romance tórrido, obviamente proibido, mas com promessas de futuro, de ficarem juntos um dia, com ciúme, declarações de amor, surpresas, presentes e incontestável paixão. Normalmente, este tipo acaba em 6 meses, mas pelo menos é intenso e inesquecível. O segundo é do tipo sexo pelo sexo. Nenhum dos dois tem projetos de futuro, não pretendem sair do relacionamento atual e mantém o caso, porque o sexo é de qualidade, seguro e fácil. Não existe nenhuma cumplicidade fora da cama e ambos fazem questão de manter uma certa distância para não criar expectativas no outro. Não há paixão, nem promessas e o único compromisso é com o próprio prazer. Normalmente acaba quando um dos dois se apaixona... pelo outro... ou por alguém de fora.
O terceiro tipo é mais complexo, é o tipo "amigos que transam". Este caso é mais dificil, porque existe amizade, comunicabilidade e o sexo...humm, o sexo é muito bom!!!  A energia é forte, o olhar é cúmplice.
 Não há aquela paixão inicial louca do primeiro tipo, que te faz perder a cabeça... Mas existe "um tipo" de amor e, por isso, um determinado nível de expectativa, de carinho, de consideração e é aí, que mora o perigo. Porque, neste tipo de caso, se vive na corda bamba. Se diminuir a conversa e o carinho, vira o tipo 2. Se aumentar a conversa e o carinho, pode virar o tipo 1. E se tem medo das duas opções - medo que a amizade acabe...  Então, o relacionamento fica oscilando entre o puxa-empurra. Um dos dois se aproxima, começa a criar mais oportunidades, cria também expectativas, aí o outro empurra, como se fosse apenas "sexo pelo sexo". Aí, o caso esfria, o empurrado se encolhe, o que empurrou, com medo de acabar, se aproxima, busca de volta e recomeça esse circulo vicioso que enlouquece e angustia... Precisa de muita paciência, porque esses movimentos de afastar e buscar são como passos de dança...tem um timing, um ritmo e...se não ficar atenta, você tropeça e cai...E vamos combinar, que dói...
Você está assim agora... estendida no meio do salão e jurando pra mim, que não dança mais.
Quer vir aqui pra conversar? Te espero com uma bolsa de gelo e um café...
Beijo.
Gui

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Carta ao Amante

Querido Lancelot,
já dizia o filósofo que os amores furtivos iluminam... Eu não discordo...Qualquer paixão ilumina!! Mas o segredo e, talvez, o perigo tem um componente a mais nessa luz, que eu não consigo decifrar e entender...
 Parece uma luz tipo fogueira, quente, perigosa, dificil de dominar.
E é uma fogueira que já vem alta, indomável, soberana... Será que esse arrepio passa? Que esse calor aplaca? E essa absoluta fraqueza pra resistir, pra dizer não?
Como não obedecer a sua voz sussurrando, afastando meus cabelos pra falar de perto no ouvido qualquer bobagem de amante... e as mãos que deslizam...os braços que erguem... e a boca, dona do beijo perfeito... O calor do fogo, como dá sede... como dá, cede...
Mas porque tanto parece pouco!! Preciso entender, preciso dominar essa fogueira, devia se remoer a pobre Psique presa na torre. Seduzida e torturada...
E na ânsia de decifrar o indecifrável, abro os olhos... vejo apenas uma chama de vela. E quando me curvo para ver o rosto do Amor, respinga cera sobre a sua pele. E assusta, queima, afasta e apaga a chama...Então, você some...
E acaba tudo??? Que sem graça!!!
Claro que não! A sorte é que o Amor não sucumbe assim tão fácil... passa o susto, o perigo e ele volta. Vai ser sempre assim, você diz.
Só por precaução, jogo fora a vela... deixo um copo d'água (com gás e limão) no criado-mudo e o ar ligado...

Beijos. Guinevère.