segunda-feira, 29 de março de 2010

Carta a Afrodite

Prezada Deusa do Amor e do Sexo:

Você, decididamente, era uma Deusa nada Santa... e, quase sempre, se entregava sem reservas aos prazeres da carne e do coração...
Calma, minha Deusa, longe de mim querer atiçar  sua ira e desejo de vingança com  minha habitual sinceridade...Eu sei o que você fez no verão passado com vários mortais. Nem os deuses escaparam: Psique, Fedra, Eos, Hipólito, Anquises, Ares...a lista é grande. Mas é justamente o seu tipo de vingança que me deixa profundamente curiosa. Porque toda a sua ira, ciúme e caprichos contrariados eram vingados com a mesmíssima arma: o amor. Ou seria a paixão? Ou quem sabe o desejo? Definições a parte, você fazia a pessoa enlouquecer pela criatura mais improvável:  o pai, o filho, o enteado, o feio, o animal... Pelos deuses do Olimpo, quanta parafilia!!!
E quando digo que  sua personalidade vingativa me interessa, é porque a nossa consciência fica muito mais tranquila, por podermos atribuir a você, a culpa das nossas insanidades amorosas.
Como é conveniente acreditar que  você continua aí em cima no Olimpo, vigiando nossas ações e se divertindo, nos rogando pragas de amor.
E se não for mesmo você, a tecelã de todas essas trapalhadas românticas, por favor, desempoeire a sua sabedoria milenar e  me ajude a entender o que faz a gente se comportar muitas vezes, de forma tão irracional. O que nos faz quebrar paradigmas tão bem fundamentados?  O que move os desejos de uma mulher...Ou então: Que tipo de homem faz a gente perder a cabeça e fugir às regras, quebrar protocolos, sem se importar com as consequências. Na verdade, a gente se importa com as consequências... mas a gente sequer lembra delas na hora que faz... Será que você, Afrodite, em nome da insanidade do amor, nos castiga com amnésia temporária?
O que faz a gente transar com um cara no primeiro encontro? E deixar sem a menor cerimônia outros pobres coitados esperando meses...é só energia? Uma" questão de pele"? Ou é o approach certo? Mesmo que esse approach seja completamente canastrão?
 Será que eu tô falando bobagem?
Uma vez passei um final de semana com um Deus do Olimpo, foram beijos intermináveis, mesma cama, ele super-carinhoso e não rolou nada...namoramos depois. Já outro, me encontrou na praia, cheia de areia, me levou pra uma barraca tipo iglu... perto do meu dia fértil e eu permiti... No outro dia quase morri de náusea tomando a pilula do dia seguinte e cozinhando pros amigos... e pior, sem o menor arrependimento.
Você sabe que não deveria, que não é o momento, que é o último cara com quem você poderia se envolver...Aí, vocês se encontram pra resolver o"flerte" e ele, na maior cara de pau, diz que não foi ali pra conversar e abre a calça... absurdo total!! Qualquer outro vc chamaria a policia, mas vc acha atrevido, sexy e não resiste...Foi você sua Vênus, confesse!!
 Será que a gente gosta mesmo de canalhice... Será que é só falta de tempo pra pensar, afinal, os botões da calça abrem tão rápido? Será que é  falta de reação ao imprevisível??
Tenho que reconhecer, que os casos que começaram assim, com arrepios súbitos e hot flushes, comigo duraram anos... os outros, poucos meses... Huummm... pensando bem, quem sabe eu tenha  uma boa pontaria!!! Minha intuição tenha escolhidos os melhores... Quem sabe essa reação passional ao primeiro encontro tenha instigado esses homens, que se deixaram ficar por perto mais tempo... Santa modéstia!!! Acho que tudo isso foi dedo seu, minha Deusa ardilosa!
Será que esse irresistivel desejo do primeiro encontro pode ser um sinal de reconhecimento mútuo? De energia vibrando na mesma frequência... tipo dois imãs que precisam se encostar (ops!), se encontrar...hehe.
Sabe o quê?  Seja o que for, salve o coração aos saltos do primeiro encontro! Salve o impulso incontrolável do primeiro encontro e todos os grandes amores das nossas vidas.
E salve você, Afrodite, que nos inspira e nos instiga com seus incessantes e deliciosos convites ao inesperado. Se essa é a sua vingança, ela até que é bem doce.

Respeitosamente. Guinevère.

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