quinta-feira, 17 de junho de 2010

Carta a Epicuro

                Prezado Epicuro, meu filósofo favorito:

                Imagino você, 300 anos antes de Cristo, já filosofando sobre felicidade... Adoro o seu tetrafarmacom, seus 4 remédios para o bem viver:  não é preciso temer a Deus, não é preciso temer a morte,  é possível ser feliz e é possível evitar a dor. Em relação aos dois primeiros, tenho uma visão peculiar, diferente da sua. Mas gosto imensamente da sua visão sobre ser possivel ser feliz e evitar a dor.
Particularmente, penso que as pessoas passam boa parte das suas vidas, tentando evitar sofrimento. Cada um com sua fórmula. Uns bebem para esquecer, outros comem. Há os que passam a vida vendo TV, ou jogando videogame. Outros trabalham demais, dormem demais, falam demais. Alguns param de pensar pra não sofrer. Muitos tomam remédios pra dormir, para depressão, para pequenas dores físicas. Tem aqueles que adoecem para trocar o tipo de sofrimento, ou para morrer logo e fugir da dor.
Os mais intelectuais burlam o sofrimento escrevendo livros de como se sair bem de situações amorosas, profissionais, de relacionamentos interpessoais, com um único objetivo:  Obter sucesso em evitar sofrimento.
Os cristãos explicam as dores, sublimam o sofrimento e se resignam na crença de que sofrem agora para não sofrerem depois.
Os budistas meditam e esvaziam a mente para não pensar no sofrimento.
Para os conscienciólogos, o sofrimento é oportunidade de evolução, é desafio existencial e superação. Waldo Vieira diz que a próxima existência será ainda pior.
Ontem uma amiga me falou de um casal que vive junto há 30 anos, num sitio, fazendo linguiça, felizes em perfeita simbiose. Imagine o pacto secreto, provavelmente tácito entre eles de não se moverem além do seu idílio e não buscarem mais conhecimento, crescimento pessoal, profissional e espiritual para não se afastarem e não correrem risco.
Permanecer dentro do círculo,se aproxima do que, você,  Epicuro,  pregava para ser feliz: satisfação apenas dos prazeres naturais e necessários.  Evitar os desejos não necessários e não naturais, pois estes precisam de mais pessoas e situações para serem satisfeitos. Quebram a autarquia, freiam a liberdade e causam dependência e sofrimento.
Mas como crescer pessoal e espiritualmente sem sonhar e quebrar paradigmas? Como quebrar estes paradigmas e deixar algum legado para o mundo sem sofrer? Como dar o salto sem risco de cair?
Passar uma vida inteira evitando sofrimento não parece insano?
Mas quantos de nós tem coragem de abrir o peito para o novo, encarar as dores dessa vida, sem medo de mudar, de sair da zona de conforto.
Se a vida é evolução, é crescimento e superação, quanto eu posso crescer fazendo tudo sempre igual e me escondendo atrás das coisas conhecidas e seguras. Em nome de Deus, da família, do dinheiro? Ou será apenas em nome do medo. Medo de sofrer?
Epicuro, você acreditava que a dor pode ser suportada, porque é passageira... ninguém lembra desta parte.
Que pena!!!
Eu acredito.
Sem todos aqueles mecanismos de defesa que inventamos, com um mínimo de armaduras, nos expomos mais, sofremos mais, porém, temos mais oportunidades de aprender.
- Aprender pra quê??- grita minha amiga -quero ficar quieta no meu canto, feliz com o meu amor, sem me ocupar com mais nada além de mim.  Azar do resto do mundo!!
Tudo bem, sente e descanse. Aprecie a paisagem!!! Você tem quantas vidas quiser e todo o tempo que desejar...
Nos vemos lá na frente. Ou não... Só não derperdice os seus dons...
Beijos. Gui.

2 comentários:

Anônimo disse...

Apreciei muitíssimo a tua carta a Epicuro. Enfim e de qualquer modo, ficamos com a desconfiança de que não importa o estilo de vida: sabe-se lá o que virá após o suspiro final... Então "CARPE DIEM"!

Guinevère disse...

Obrigada!! Interessante seu ponto de vista... Acho que o estilo de vida que vc escolhe para "não sofrer" realmente não importa, se vc estiver fazendo o melhor que pode...e, insisto, não desperdiçando os seus dons... Abraço. Guinevère.